No meu caso, que realizei o rito "Grande Travessia" no dia 09 de junho nos jardins do Vale Anhangabaú, o roteiro-grade funcionou como um meio de colocar as idéias no papel, e a partir dali verificar o que realmente queria e, se o que eu queria estava claro para os outros participantes. O Olhar de fora, tanto o meu em relação ao papel escrito, quanto as dúvidas e questões dos participantes do Nutaan colaboraram para preencher vários vazios.
Definido o roteiro com todos os seus pormenores e detalhes, percebi que, para que acontecesse realmente a transformação neste ritual, seria necessário a minha entrega total, por isso percebi o quanto era perigoso ficar excessivamente preocupada com a movimentação coreográfica do ritual, percebi a importância de confiar nas pessoas
que iriam me ajudar a realizar a travessia. O roteiro grade funcionou como um mapa, para dar uma noção de onde poderíamos chegar enquanto coletivo, porém foi a confiança nesse mesmo coletivo que fez com que o ritual acontecesse. No momento em que as tensões emocionais se estabeleceram com toda força no ritual, me desfiz do roteiro e mergulhei no fluxo de cada situação, tentando estar presente a cada momento, por uma necessidade
pessoal, íntima. O roteiro fica como um vestígio, um rastro, pegadas do que realmente aconteceu.
O questionário da mitologia pessoal foi fundamental para a elaboração de um tema. Lembrei do rio Tiquatira que cortou o meu bairro durante a infância e adolescencia e de meus sonhos sobre rios. Sabia que a minha mãe havia sido adotada pela irmã de seu pai, mas nunca questionei a história de sua mãe biológica, e percebi um dia numa conversa com uma colega do Nutaan sobre ancestralidade, o quanto era importante essa informação sobre minha avó que eu não conheci que morreu quando minha mãe tinha 3 anos. O encontro com essas três avós durante o meu rito foi muito significativo. Enfim, a mitologia pessoal possibilitou que eu elaborasse um quadro sobre minha história, personalidade, aspirações e carências que levaram-me a uma rica reflexão sobre ancestralidade, e a trajetória de vida que percorri até então com todos os seus percalços e conquistas.
Na primeira fase do rito (Separação) as ações ocorreram conforme estabelecido na grade, com a mesma atmosfera e tensão. Acredito que apenas a parte vocal poderia ter se manifestado com mais intensidade.
O segundo momento (Entre) também foi fiel na maioria das indicações exposta na grade. No momento após a retirada da pele coloquei na grade que a Serpente,/Eu deveria ficar um instante sozinha e em seguida apenas um curandeiro voltaria para me levar de encontro aos mestres de obras, no entanto isso não aconteceu, mas por falta de minha sinalização durante a exposição do ritual ao grupo. Esse momento se deu com o coletivo de curandeiros que me ergueram e me encaminharam para perto dos tijolos, esta caminhada com suspensão embora não estava prevista, a meu ver foi muito intensa durante o ritual, foi algo inesperado, mas muito significativo. A atmosfera tensiva indicada também esteve bem presente, mesmo não sendo muito afirmada durante a explicação do roteito do rito de passagem, mas acredito que o acontecimento (estória) faz com que estes estados apareçam quase que naturalmente. Após o banho propus que trabalhássemos com o elemento fogo, este apareceu com grande intensidade, até mesmo pelos participantes externos ao grupo; a música que se dava com as vozes, choque dos tijolos com o chão e o batuque nos baldes ajudou para este acontecimento.
A ultima fase (integração), assim como as outras foi composta praticamente conforme o roteiro grade. Muitas ações inesperadas ocorreram nesta etapa (Ex: retornar a terra através de um caminho desenhado por um dos integrantes), mas de certa forma prevista pois não defini o que seria a Dança Transcendental.
Refletindo sobre meu ritual chego à conclusão que a maioria das ações relatadas na grade esteve presentes, no entanto este roteiro se preencheu e se intensificou com o inesperado que se deu principalmente com a relação dos participantes com a urbanidade local, utilizando dos elementos que estavam externos a grade como caminho de potência a favor da transformação do Candidato.
Carol Greco
O levantamento de minha mitologia pessoal ajudou sim na elaboração do meu rito, na medida em que ele abriu um panorama de minha existência até esse momento. Me fez ver, por exemplo, situações vividas que na verdade eram apenas a ponta do iceberg e que eu julgava até então como pontos essenciais em minha vida e que na verdade funcionaram apenas como mola propulsora de outros desejos e de outras questões. Penso que consegui trazer à cena/rito Transxamã um importante mix de crenças e religiosidades, tb muito presente em minha família. Outro aspecto que pra mim foi muito importante na elaboração da mitologia pessoal refere-se as caracteristicas de minha ancestralidade marcantes em minha vida, por mais que eu não as tenha vivido, como por exemplo as grandes travessias que meus ancestrais realizaram até o estabelecimento no Brasil. Ritos de cura sempre povoaram a mitologia de meus antepassados, conexão com outros mundos (xamanismo e imigração). Quando me deparei com a grade outra perspectiva se abriu: escolher minha mudança e fazer conexões com minha mitologia foi um pulo. Pulo no desconhecido. Pulo no escuro. Pulo no abismo de mim mesmo. e lá encontro o homem/bicho a espera do menino, a espera de vcs. Chegou a hora e tomo posse de minhas forças.
Eduardo Bento
ALGUNAS REFLEXIONES SOBRE MI MITO-RITO
Creo que he planteado mi rito de pasaje como unificador de muchas de las preguntas de la mitología personal. Mi mitología personal fue escrita en base a que me moviliza contemporáneamente y sinceramente es todo lo que pretendo trabajar. Al menos una buena parte. Por un lado el análisis de la ancestralidad, me llevó a descubrir la importancia de mis abuelas en cuanto a mi ser cotidiano. Esta presencia de mentes femeninas enseñándome a enfrentar la vida de maneras muy distintas son parte de lo que hoy me hace reflexionar sobre las oposiciones existentes en el mundo y lo paradójico de las categorías de bien y mal. En mi mitología escribí:
Mi rito se llama fortaleza por que considero que este equilibrio inestable precisa de mucha fuerza energética para, tan solo, ser aceptado. Considero que esta fortaleza me la han dado las mujeres de mi familia y quizás esto pueda extenderse mas allá, pudiendo hablar de la fuerza de las mujeres de America.
El resto de las preguntas de la mitología son sumamente relacionables a esta búsqueda de transición que diseña el rito.
Além de ampliar o conceito de ancestralidade,levando-o de encontro à idéia do ser civilizado que somos,construído sobre bases animais(presente no texto felicidade,do Eduardo Gianetti,citado pelo Valter),ajudou a perceber e entrar em contato com os territórios simbólicos que estou habitando,por quais sou habitado ,quais quero/desejo habitar consciente ou inconscientemente,a relação/tensão existente entre eles e as que podem se estabelecer.As potências que estão adormecidas,as que estão acordadas e as que estão ainda por despertar.
A mitologia pessoal me ajudou principalmente no sentido de me localizar em relação ao meio urbano. Auxiliou no processo de reflexão do ambiente que vivo, dos caminhos, lugares, meios de transporte... Como me relaciono e como sinto essa relação com o meio urbano. Em relação ao tema do rito, essa questão foi primordial para a escolha dos lugares que eles serão desenvolvidos.
Bom, no meu caso, como havia acabado de responder o questionário básico na ocasião da oficina residência, algumas questões (de ancestralidade) já estavam claras para mim. A presença da espiritualidade em minha vida, por exemplo. Ao refazer o questionário, pude detectar como esses assuntos recorrentes se relacionam com o tema urbano - se harmonizam ou conflituam por exemplo. Notei que o tema da espiritualidade, sempre rodeada por algumas palavras chave como "pacificidade" e "serenidade" foram responsáveis por uma incompatibilidade minha diante de São Paulo, pois não me via armado propriamente para enfrentar esse "monstro". Assim, cheguei ao meu rito, concluindo que preciso absorver um pouco de agressividade a fim de não destoar tanto do modo de vida aqui, a ponto de me sentir submisso à certas ocasiões. Enfim, logicamente, não quero me tornar "violento", mesmo simbolicamente, apenas capaz de enfrentar a metrópole sem medo.
Roger Valença
Para a elaboração do meu ritual, busquei informações em minha mitologia pessoal. Torna-me Serpente primeiramente vem de encontro com questões do meu inconsciente reveladas em meus sonhos, sempre tenho medo e dificuldade em dominá-la, enfrentá-la. Assim ser a própria, me permite ir de encontro com esses desafios, querer mudar, trocar de pele, deixar o que está cristalizado para buscar uma permeabilidade do desconhecido, do novo. A pele constituída de jornal me faz pensar na imagem das pessoas que vivem na rua, e faz dos papelões suas casas, uma espécie de pele protetora. (Mas essa é a forma que realmente gostariam de ter como proteção? Existe um desejo de mudança?)
Inicio na terra, pois ela também me traz um prazer e conforto (Um ambiente que gosto muito de estar), o que esta associada ao estado inicial desta serperte/Eu. A terra que é mãe e acolhe, que se alimenta da morte para gerar vida. (Terra como elemento que acredito fazer parte de minha ancestralidade). Para fortalecer ainda mais esse “conforto” aparecem os personagens DOENÇAS – (seres femininos e maternais), que serão semeadoras deste estado. Em confronto com este estado está a figura dos CURANDEIROS e MESTRE DE OBRAS (Espécie de assistentes dos curandeiros, mas auxiliam através de sons e quebra dos tijolos: que terão o significado de reafirmar o rompimento, quebra deste estado de conforto) – que vão me tirar deste estado concreto/despedida da pele para a cura e absorção do novo, o qual esta na cidade (no chão de concreto), sendo assim após a retirada da pele os curandeiros me levam para este lugar (Ambiente Urbano). Ao fim do momento anterior, todos os participantes se transformam em CURANDEIROS – personagem que aparece em meu ritual inspirado na figura de OBALUAÊ (pertencente a minha ancestralidade): um orixá Rei da terra, curador, “Senhor das Passagens" de um plano para outro, de uma dimensão para outra), me purificam com um banho de água e me encaminham novamente a terra. Nesta fase do ritual fico ao centro da roda e as pessoas me tocam com as mãos e em seguida o que absorverem de ruim é jogado pra terra (Tocam a terra com as mãos). O Ritual é finalizado com muito contato, vindo de encontro do que considero mais belo em parte de minha ancestralidade, que é VALORIZAR A PRESENÇA DO OUTRO, característica que sinto estar cada vez mais ausente no Ambiente Urbano.
Lendo o Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier, tive como investigação elementos presentes em meu rito que considero importantes, sendo eles: Serpente/Água/Terra/Tijolo. Essa leitura me promoveu ainda mais sentidos e me fez perceber as ligações existentes entre meu desejo de Transformação, mitologia pessoal e esses elementos. Assim compartilho a seguir significados expostos no livro que me chamam a atenção:
- Serpente:Quando desperta, a serpente sibila e se enrijece; opera-se então, a ascensão sucessiva dos chacras: é a subida da libido, a manifestação renovada da vida.
- Água: Fonte de vida, meio de purificação, centro de regenerescência.
- Terra: A terra simboliza a função maternal, dá e rouba a vida. ... A idéia é sempre a mesma: regenerar pelo contato com as forças da terra, morrer para uma forma de vida, para renascer em outra forma.
- Tijolo: O tijolo simboliza a passagem da humanidade á vida sedentária e a origem da urbanização. O tijolo traz ao homem a segurança da moradia, da cultura, da sociedade, da proteção divina, embora lhe traga também o limite – pois o tijolo significa regra a medida, a uniformidade. Será o inicio da sociedade fechada, em contraposição á sociedade aberta do nômade.
Carol Greco